O típico dono de pousada
O típico dono de pousada tem entre 30 e 50 anos e deixou para trás um padrão confortável de rendimento. Era pequeno empresário, profissional liberal ou tinha emprego em nível de gerência. É verdade que a maioria só ganha coragem para pôr o sonho em prática depois de perder o emprego ou fracassar nos negócios. É então que aproveita o saldo do FGTS, raspa a poupança, pede dinheiro emprestado aos parentes, vende o carro – e joga tudo no empreendimento de seus sonhos. Só aí descobre que para o negócio dar certo é preciso trabalhar pesado. O dono de um pequeno hotel vai acordar de madrugada para preparar o café-da-manhã, terá de lidar com empregados pouco experientes e dormirá depois que o último hóspede apagar a luz do quarto. "O maior erro é achar que se trata de uma atividade de lazer. É um negócio como qualquer outro", explica José Bento Desie, coordenador do núcleo de turismo do Sebrae-SP. Um dos primeiros choques é a perda de status social. Quem tinha um escritório grande na cidade tende a gastar um dinheirão com a decoração de sua nova sala só para mostrar aos amigos que fez a escolha certa. O pior para quem tinha salário acima de 10.000 reais é ver a renda mensal cair para a faixa dos 3.000.
Como em qualquer negócio, há bons exemplos de sucesso para animar novos empreendimentos. "A cada dia me apaixono mais pelo que faço", diz Antonio Edson Molica Porto, 62 anos, que largou o emprego de diretor numa editora de São Paulo para se dedicar às pousadas. Dez anos atrás, ele montou sua primeira hospedaria em Arraial d'Ajuda, na Bahia. Com a experiência adquirida, cinco anos depois transformou em outra pousada seu sítio em Araçoiaba da Serra, a 120 quilômetros de São Paulo. Ali recebe sobretudo grupos para convenções. Esse tipo de hospedagem é um filão que garante a rentabilidade de algumas pousadas. Muitos proprietários inexperientes, porém, transformam a pousada em uma espécie de casa de veraneio para amigos e parentes, constrangendo os demais hóspedes. Acabam dando tanta atenção aos conhecidos que negligenciam o atendimento a quem realmente deveria receber todos os cuidados.
O sucesso de uma pousada depende muito mais do local em que está instalada do que da infra-estrutura que oferece. A primeira preocupação do visitante é se a região tem todas as atrações turísticas que ele busca. As chances de dar certo diminuem se estiver a mais de 200 quilômetros de um grande centro urbano. O local pode ter passado impressionante – mas foi abandonado pelos turistas. Isso aconteceu em Florianópolis, cuja infra-estrutura hoteleira dependia dos 800.000 argentinos que baixavam por lá a cada verão. A crise econômica no país vizinho reduziu drasticamente o fluxo, a ponto de a ocupação de algumas regiões da cidade ser de 40% na alta temporada. Para ser saudável, um empreendimento precisa de ocupação média anual de 65%. O resultado é que só na Praia de Canasvieiras, a preferida dos portenhos, há dez hoteizinhos à venda. Metade deles pertence aos próprios argentinos – como os brasileiros, eles também sonham mudar de vida abrindo uma pousada.
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veja.abril.com.br/140503/p_107.html